sábado, 31 de agosto de 2013

azul

A manhã entra em feixes na sala, amarelando moletons e mesas com livros. É ela que eu assisto sentada ao lado da janela, refletida no concreto do prédio em meio a chicletes rijos e marcas de chuva. Enfurnados nessa caixa de branco sujo, ô meu deus. Não é rebeldia, juro que não; antes o cansaço trazido por anos de receber conteúdo, receber, passiva num papel branco dizer que absorvi e que posso estudar no superior. Não vejo nada de certo em tudo isso. Talvez seja drama de momento. A certeza cada dia maior de que a vida está pra fora do vidro, da grade daqui e do calor represado entre as cabeças enfileiradas. O sol refletido no concreto já encurtou, metade sombra.
Fico fazendo hipóteses para as razões que te fazem sentar na minha rota, invento tua mente e entretida vejo o tempo passar... Não me machuco com a irrealidade das coisas que componho, porque são todas partes de uma imaginação e só. É passatempo; é tédio o que me faz contar as formigas na parede. Hoje posso dizer que é indiferente o conhecimento dos teus pensamentos. Não passa de curiosidade simplória, mimada. As razões que me mantêm distante são igualmente medíocres, mas me bastam. 
Nos dias em que tombo para o sentimentalismo barato, me seco inteira de choro porque tenho memória. Saudade, eu digo -- é uma das coisas mais simples de se confessar. Saudade de milhares de coisas, desde o teu cheiro até o bolinho que minha avó fazia quando eu era menor. A parte boa é o que eu prefiro cultivar, passando de leve voando pelas lembranças doídas. Leite derramado, o livro no meu colo. Não adianta mesmo...

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