quinta-feira, 4 de abril de 2013

zebra, café e mel

sempre que te vejo aos picotes, coisa de dois ou quatro segundos, a coisa toda borra e fica em rodagem de filme antigo. dura eternidade.

encostada e ante as luzes vermelhas, me proponho -- que verbo ruim -- à reconstituição... momento terrível. lembro do azul queimado da sua blusa no pequeno aberto espaço, depois o cabelo e então o rosto: sem barba, meu deus. é mesmo. não é novidade, foi na última semana de março, mas não consigo evitar o estranhamento. se eu tivesse mais tempo de contemplação talvez me acostumasse.
a estranheza do abraço de passagem -- nem parece que aqueles corpos já se amaram, juntos juntos. da primeira visão ao toque seus olhos me percorreram em expressão que ainda não soube interpretar, e muito provavelmente não o farei. seria a minha pele com o, pasme, rosa queimado no pano? o aspecto de quem tem dormido mal? ou só o choque de sensações prévias naquele reencontro blitzkrieg... 
sim/não. rostos que não mais identificamos, ou caras cansadas da viagem, ou que de tanto pensamento perdem a expressão.
em retrocesso a cena me vem de um terceiro ponto, aquele que vê, e é assim tola como escrevo: de súbito olhos, de súbito coração, distância tocada, desencaixe, de súbito fim. 
- e ai... 
- oi. 
é só isso que sei dizer: oi. fico entre essa palavrinha e o "te amo. tchau." entre lamento e desapego, suor e tremor de frio. sou o pêndulo da literatura antes de achar um meio termo e parar o percurso em lugar saudável. isso tudo causa uma vertigem horrorosa, daquela do filme do hitchcock, de que agora você tem prova: versos emprestados aos montes, papel rabiscado e, mais ainda, estes olhos.

2 comentários:

  1. Digamos que meu passado se identificou com o texto...
    Mas, nossa, seus textos amadurecem cada vez mais! Tá lindo esse :3

    ResponderExcluir
  2. Eu vivo me identificando com os seus também, sabe disso!
    E como sempre, aquele meu "obrigada" de coração, menina.
    Beijos

    ResponderExcluir