domingo, 10 de março de 2013

nota après le déluge


De repente a cama parece grande, mas não por sentir saudade. Estou no momento em que não sinto nada, assim de repente. Entendo por que todos desse discurso gostam do que fazem, dá um conforto e desprendimento tremendos, mas sentir sempre foi minha sina, meu passatempo, ópio, uma praga. Não se tira as coisas assim de alguém, senhor. 
Ouço o mesmo cd pela quarta vez no dia, há semanas que não sai do leitor do rádio. Se eu for parar pra incorporar as letras e traduzi-las, parecerão todas vazias porque só tenho uma imagem pra colocar nas menções em segunda ou terceira pessoa: você. Perde qualquer sentido. Mesmo as mais ácidas, neste momento nem essas quero te dedicar.
Amo a chuva que cai tranquila à meia noite, através da janela enquanto fico em pé na sala ouvindo as unhas da cachorra passearem pelo assoalho. Amo o som do violão, do caminhão de lixo que passa na hora em que pego no sono, amo o carbono que sai do meu lápis e fica no papel por mais ou menos tempo, amo o tato quando junta com olfato. 
Sinceramente a dor que por ora me resta é pouca, Drummond, nem desejarei o seu consolo na praia. Eu quebro a cara toda semana porque me entrego a tudo ou levo outras coisas a sério, fico lamentando a noite passada, o que torna tudo isso um desespero incrível: atirei um limão n'água, essa lua esse conhaque, devo seguir até o enjoo?, é noite no submarino, é a vida um suspiro sem paixão; nada, verso nenhum, meu deus do céu.

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