A
quinta-feira sempre me nocauteia no canto do ringue, a boca começando a soltar
sangue e sabendo que ainda tem mais porrada pela frente. Que dia mais quente e
comprido. Leram Drummond e nem assim os meus olhos pararam de doer, latejantes
e pesados, enquanto eu tentava apoiar a cabeça nas mãos e entender as
entrelinhas. Tem gente que nasce iluminada e consegue dar sentido a toda vírgula
que escreve. Será que eu vejo o farol ou sou ele, seu Carlos?
O
cansaço se misturava com vontades primitivas. Eu queria deitar por horas os
olhos no Hemingway mas sabia que algum touro morreria sem culpa em uma fiesta espanhola. Não existe perfeição. Eu começava a me lembrar do sonho que tivera
na noite passada... As cenas eram vivas e tão reais e o sorriso algo natural,
integrado à vida como a lua ao céu. Parecia que tudo, até você, estava de
volta, em pé e com aquele brilho nos olhos. Mas sonho é feito fumaça, um filme
do que nunca ninguém gravou, coisa que a gente sente e não existe.
O
desalento é tão relativo, pensava, fechando os olhos para os postes de luz. Se
eu aumento tudo que é sujeira na calçada, não é por vaidade. São tão poucas as
bocas que beijam e não escarram. Vrum, vrum, biiiin.
Os gregos de horas atrás piscavam lá dentro do crânio, perfeitos e de mármore,
num tempo em que não se sonhava com messias e o clássico era rotina, tudo era
filho dos deuses. Os egípcios morriam para viver, e o contrário. A morte anda do nosso lado o dia todo, enquanto descascamos as laranjas e olhamos do alto de prédios para as ruas... Posso cruzá-las na hora errada, posso tropeçar na plataforma do trem, me estatelar no trilho, sem que precise de dois segundos para isso. Se pensarmos demais ficamos loucos. Que esmaeça da cabeça a indecisão, que os cantos tenham som de Buddy Holly
e o céu esteja livre numa circunferência inteira, com cheiro de terra...
Cochilei.
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